Existe um conto
da Tradição muito interessante, que demonstra como o praticante encara o
cotidiano, se ele está no momento presente, unificado ou se está na dualidade
(eu e o outro, ação e pensamento, etc.).
No meio de uma
floresta, existia uma cabana que estava abandonada fazia tempo, perto de um
caminho. Devido a sua localização dentro da floresta, as pessoas passavam por
ali no cair da tarde, podendo ser um bom abrigo para passar a noite.
Certa vez, um
bandido perigoso resolveu se instalar na cabana e roubar que ali entrasse
pedindo abrigo. Reformou e colocou tudo novo, e sempre no final do dia,
cozinhava arroz para atrair as vítimas.
Um dia, um
Samurai chegou ali cansado e faminto, vendo a cabana nova e sentindo o cheiro
do arroz, foi entrando sem pensar na hipótese de haver perigo. Bateu na porta,
pensando em quais regras de etiqueta iria seguir para conseguir comer os
bolinhos de arroz. Imediatamente, o ladrão, que estava escondido atrás da
porta, fere-o e abandona-o no meio da floresta após roubá-lo.
No dia seguinte,
outro Samurai chega ao fim da tarde, e resolve entrar na cabana. Como era um
guerreiro de muitas batalhas, assim que entrou, percebeu o perigo e o pôs o
bandido para correr. Comeu o arroz e foi embora.
No terceiro dia,
um terceiro Samurai passa diante da cabana, mesmo cansado e com fome, decide
não entrar; pressentiu algo diferente, uma sensação de perigo e continuou sua
jornada. Só parou num lugar que percebeu como seguro e agradável: ficou em
contemplação.
O primeiro
Samurai, vivia apegado ao mundo das aparências e da matéria; com a mente
embotada por acreditar em existir necessidades e exigências, sendo atraído pela
sugestão da ação de satisfazer tais necessidades e exigências. Geralmente se
cerca de regras e tenta seguir a todas, perdendo o contato com o Fluxo da Realidade,
pois fica focado em resolver imediatamente uma imposição ou “necessidade”; aqui
ele quer comer e tem que ser imediatamente, e se desconecta do todo. Era uma vítima
das tradições e condicionamentos sociais; e certamente dependente deles.
O segundo
Samurai, vive no esforço, com a mente sempre alerta, os sentidos a flor da pele
para não ser surpreendido, esta é sua interpretação do mundo que o cerca, pois
foi assim que sobreviveu a tantas batalhas. Vive uma existência limitada a
sempre se impor sobre os outros, porém por mais hábil que seja, sabe que um dia
encontrará alguém que poderá derrotá-lo; este é seu receio. Ele está sempre
fixado na prática, nos estudos filosóficos, nos ensinamentos, tenta controlar o
meio que o cerca; vive no mundo da razão e ignora o Fluxo de Realidade.
O terceiro
Samurai, não precisou lutar ou ficar em alerta, pois está sempre no instante
presente, ele é o próprio mundo, percebe o Fluxo de Realidade em si. Alguns
dizem que é intuição, porem ele é livre, por não ter apego a conceitos e
aparências, não tem medo da falta, não tem medo de nada, pois não precisa
provar a sua maestria. Muitos vão dizer que ele obteve uma “vitória sem luta”;
mas para ele não existiu luta, tampouco vitória; ele apenas é parte integrante
da situação viva.
Boa reflexão.
Oss.
Baseado em
contos da Tradição Marcial.
Muy interesante reflexión, hay que trabajar para llegar a ser como el tercer samurai, gracias Ricardo
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